Por Andrey Rosenthal, Ana Cláudia Breier e Maíra Teixeira
Gustavo Capanema foi Ministro da Educação e Saúde de 1934 a 1945. Entre as inúmeras tarefas a ele solicitadas, uma em particular não foi concluída, a organização e publicação da “Obra Getuliana”. O livro deveria ser lançado em 1945, durante as comemorações dos quinze anos da Revolução e do governo de Getúlio Vargas. Carlos Drummond de Andrade e Antônio Leal Costa foram encarregados de escrever o capítulo que trataria das questões culturais. Burle Marx, Portinari, Santa Rosa e Guignard seriam os ilustradores e Mario Baldi, Erwin Von Dessaue, Paulo Alves e Erich Hess, os fotógrafos oficiais. Tratava-se de construir uma visão do Brasil e de sua Administração. A tarefa não foi finalizada, mas cerca de 600 fotografias foram especialmente produzidas e, desde então, pouco a pouco, reproduzidas. Tais documentos somaram-se às imagens do Brasil e de seu povo registradas e publicadas por outros profissionais especialmente contratados, como Jean Manzon (pelo DIP) e Marcel Gautherot (pelo SPHAN). Particular atenção recebeu a arquitetura, com os fotógrafos voltando suas lentes para os monumentos “modernos e antigos”. Inaugurava-se assim uma maneira oficial de apresentar a arquitetura nacional. Prática que se manteve ao longo de muitos anos.
Com tal compreensão, o presente artigo busca identificar qual a contribuição dos fotógrafos para a historiografia da arquitetura brasileira, analisando, particularmente, duas situações: o registro da obra de Oscar Niemeyer e de Lina Bo Bardi. No caso de Niemeyer temos fotógrafos como Richard Wurts, Jean Manzon, Marcel Gautherot, Rafael Landau, George Kidder Smith, Rosalie Thorne McKenna, os irmãos José e Humberto Franceschi, Yukio Futagawa, Alan Weintraub e Leonardo Finotti entre outros. Já no caso de Lina Bo Bardi, temos principalmente Francisco Albuquerque, Peter C. Scheier, Hans Günter Flieg e Nelson Kon.
A parceria entre fotógrafos e arquitetos modernos
A primeira metade do século XX foi marcada por uma frutífera associação entre fotógrafos e arquitetos. Tratava-se de legitimar a arquitetura então realizada, o que ocorreu também pelas sensíveis lentes de fotógrafos afinados com as vanguardas artísticas. Pouco a pouco, por meio de refinadas publicações e pela difusão das revistas especializadas, inúmeras obras passaram a ser internacionalmente conhecidas e tornaram-se paradigmáticas. Obras nem sempre integralmente reveladas, mas ao contrário, cuidadosamente escolhidas e fotografadas a partir dos seus melhores ângulos. Uma arquitetura “pura” e “racional” revelada sob o efeito da luz e da sombra (mas por excelentes fotógrafos...).
Estudando o tema, Anat Falbel (1) lembrou algumas parcerias importantes entre fotógrafos e arquitetos, como Julius Shulman e Richard Neutra ou Ezra Stoller e Frank Lloyd Wright, Paul Rudolph, Marcel Breuer, Eero Saarinen, Richard Meier e Mies van der Rohe. No Brasil, tal parceria foi, ao que tudo indica, inicialmente estimulada pelo Governo Federal. Entre as inúmeras tarefas solicitadas ao ministro Gustavo Capanema, uma em particular não foi concluída, a organização e publicação da “Obra Getuliana”. O livro deveria ser lançado em 1945, durante as comemorações dos quinze anos da Revolução e do governo de Getúlio Vargas. Carlos Drummond de Andrade e Antônio Leal Costa foram encarregados de escrever o capítulo que trataria das questões culturais. Burle Marx, Portinari, Santa Rosa e Guignard seriam os ilustradores e Mario Baldi, Erwin Von Dessaue, Paulo Alves e Erich Hess, os fotógrafos oficiais.
Tratava-se de construir uma visão do Brasil e de sua Administração. A tarefa não foi finalizada, mas cerca de 600 fotografias foram especialmente produzidas e, desde então reproduzidas. Tais documentos somaram-se às imagens do Brasil e de seu povo registradas e publicadas por outros profissionais especialmente contratados, como Jean Manzon e Marcel Gautherot. Particular atenção recebeu a arquitetura, com os fotógrafos voltando suas lentes para os monumentos “modernos e antigos”. Inaugurava-se assim uma maneira oficial de apresentar a arquitetura nacional. Prática que se manteve ao longo de muitos anos. Com tal compreensão, buscamos apontar a contribuição dos fotógrafos para a historiografia da arquitetura brasileira, inventariando, particularmente, duas situações: o do registro da obra de Oscar Niemeyer e o de Lina Bo Bardi.
Continue à segunda parte do artigo: Fotografando a obra de Oscar Niemeyer.
Andrey Rosenthal Schlee é arquiteto e urbanista pela Universidade Federal de Pelotas (1987), mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994) e Doutor de Universidade de São Paulo (1999), professor da Universidade de Brasília. Ana Cláudia Böer Breier é arquiteta e urbanista pela Universidade Federal de Santa Maria (2002), mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005) e Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (2013). Atualmente, é professora no Instituto Federal Farroupilha - Campus Santa Rosa. Maíra Teixeira Pereira é arquiteta e urbanista pela Universidade Federal de Viçosa (2001), mestre pela Universidade Federal de Viçosa (2003) e Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (2014). Atualmente é professor efetiva da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
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